Nada espelha o que digo,
nada o devolve,
porque o que escrevo não é para ver
nem para refletir nada.
Estas palavras-vampiro,
invisíveis nos espelhos,
são o alimento duma vida eterna
que somente no meu sangue circula,
que são um circuito fechado em mim,
corpo e espírito daquilo que flui
guardado nos canais do ser e estar.
Assim de isolado é escrever palavras
que carecem de forma e imagem
no mundo dos mortos viventes.
apesar de tudo,
digo río,
árvore,
fonte,
terra,
ar
e pássaro,
tudo sem explicação.
Porque nem sempre a noite
se sente como a existência
de tudo aquilo que não se vê.
Não,
há uma luz infinita em teus olhos,
e ali vêse tudo o que se sente obtuso
como o reflexo do dia eterno
no qual o que escrevo
carecerá para sempre de sentido
e deixarei de alimentar-me nas sombras,
para que seja cravada a estaca do amor no coração
e perdam as palavras a vida.
2 comentarios:
para que
respirem
sol árvore
lua onda
(inexplicadas pra sempre
as palavras.
pra que adormeçam
em paz
( e por fim
num abraço
as
palavras :)
*
" Entre o amador e a amada recoloco a espada nua. Busco nos ossos de todos os que amaram, a medula contínua, a cadeia que nos prende. Ou amo e morro ou vivo e não amo. Túmulos e túmulos de vítimas de amor, sangue de Inês manchando eternamente a pedra sob as águas, já mineral, já rocha, sangue endurecido dos amantes imolados a uma aparência de não sermos finalmente nós, cântico de todos os mortos por amor clamando sobre as águas, sereias de morte gemendo e cantando o maior silêncio da consciência. Oh vontade da fusão, vontade de morte. Oh medo de sermos apenas, apenas sós, apenas isto, Amor, amor sexto oceano da realidade, amor lava ardente, amor voragem, amor fosso, amor vórtice, amor abutre."
A.Hatherly
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