Ás vezes o constructor detém-se. A obra afigura-se-lhe un montão de ruínas e, exausto, nem sequer consegue levantar uma pedra. Recorda entao o fulgor fresco de uma manhã inicial, a ligereiza dos movimentos ascensionais, a ingenuidade de uma visão aberta e consonante, as perspectivas puras que se projectavam sobre um mar fascinante na sua lenta e azul tranquilidade.
Algo de subtil e precioso germinará ainda sob a massa confusa das sensações em que o ser se asfixia e inmobiliza?
A vivacidade de uma festa no deserto poderá ainda actualizar a festa doutrora, a festa do princípio de todos os princípios?
O constructor é neste momento o ignorante supremo na sua nuvem obscura, trabalhado pelas ondas negativas da desolação. Mas este momento, por negativo que seja, é ja o despertar para a necesidade de construir a partir da resistência dos materiais opacos da construcção e do seu peso maciço em que está petrificada a energia do ser.
Antonio Ramos Rosa
“O aprendiz secreto”
Então eu digo que sim,
que o pássaro constrói o ninho
com paus, pedras e plásticos verdes e azuis,
e se o vento ou os elementos o desfazem,
o volta a construir desde zero.
E desde aí,
desde essa inerte aparência,
germina o precioso,
outro pássaro que construirá novos ninhos,
porque o ser está ali,
ainda na sua resistência de ser,
ainda nessa falsa ruína.
¡¡Constrói!!
¡¡Levanta as pedras!!
¡¡A festa continua!!
2 comentarios:
sabemos que são
ciclos
de que se
faz o
des-aprender
ainda e depois
erguer o corpo
soterrado
em babel
acordá-lo
trazê-lo
pre-sente,
protegê-lo
? a reconhecê-lo intacto
a sacudir-lhe o pó
a devolver-lhe
a respiração
resgatado à
confusão das
línguas
~
Ainda bem que o sabemos!!
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