Escucho el silencio del tiempo que pasa _ escuto agora o silêncio, me quedo con él y en él, entro en las letras y en los números _ atravesso letras e números, embalo e calo _ las callo y los cuento, busco el prodígio de la relación constante _ afloro o prodígio da relação constante, a assombrosa claridade do silêncio, o encontro transparente da verdade _ el asombro cintilante de la vida ____ SOY pi & phi _


5/1/17
















O Problema da Sinceridade do Poeta

O poeta superior diz o que efectivamente sente. O poeta médio diz o que decide sentir. O poeta inferior diz o que julga que deve sentir. Nada disto tem que ver com a sinceridade. Em primeiro lugar, ninguém sabe o que verdadeiramente sente: é possível sentirmos alívio com a morte de alguém querido, e julgar que estamos sentindo pena, porque é isso que se deve sentir nessas ocasiões. A maioria da gente sente convencionalmente, embora com a maior sinceridade humana; o que não sente é com qualquer espécie ou grau de sinceridade intelectual, e essa é que importa no poeta. Tanto assim é que não creio que haja, em toda a já longa história da Poesia, mais que uns quatro ou cinco poetas, que dissessem o que verdadeiramente, e não só efectivamente, sentiam. Há alguns, muito grandes, que nunca o disseram, que foram sempre incapazes de o dizer. Quando muito há, em certos poetas, momentos em que dizem o que sentem. 
Aqui e ali o disse Wordsworth. Uma ou duas vezes o disse Coleridge; pois a Rima do Velho Nauta e Kubla Khan são mais sinceros que todo o Milton, direi mesmo que todo o Shakespeare. Há apenas uma reserva com respeito a Shakespeare: é que Shakespeare era essencial e estruturalmente factício; e por isso a sua constante insinceridade chega a ser uma constante sinceridade, de onde a sua grandeza. 
Quando um poeta inferior sente, sente sempre por caderno de encargos. Pode ser sincero na emoção: que importa, se o não é na poesia? Há poetas que atiram com o que sentem para o verso; nunca verificaram que o não sentiram. Chora Camões a perda da alma sua gentil; e afinal quem chora é Petrarca. Se Camões tivesse tido a emoção sinceramente sua, teria encontrado uma forma nova, palavras novas — tudo menos o soneto e o verso de dez sílabas. Mas não: usou o soneto em decassílabos como usaria luto na vida. 
O meu mestre Caeiro foi o único poeta inteiramente sincero do mundo. 

Fernando Pessoa, in 'Ideias Estéticas - Da Literatura'






Numca quis ser um poeta,
porem, sempre quis ser homem.

Para ser poeta faltabame sinceridade intelectual,
para ser homem faltabame sinceridade humana.
Eu nao sabía nada dissto.

Agora sei que nunca serei poeta,
mais tambem sei que sao e serei homem para sempre.

A poesía tentou enganarme,
tanto tentou enganarme que,
mesmo nao querendo ser poeta,
eu quería ser um poeta,
inferior, medio o superior.

Mais tambei a poesía levoume,
quase paradójicamente,
a sinceridade conmigo mesmo,
num percurso onde sofrer é o caminho
e onde sentir é o inicio da verdadeira viagem.

Agora que sinto como um homem,
agora que sei o que nao sabía,
agora que reconheço a minha pobreza intelectual,
a minha torpeza humana,
agora que sao sinceiro,
nao quero perder mais nada,
ja estou preparado para viver e morrer ao teu lado.




Natal 2016





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