
O primeiro que quis de ti
foi essa capacidade de ver
as coisas que não se veem
e que não servem para viver.
O segundo foi o teu sorriso,
porque não te sei sem ele.
O terceiro foram teus olhos,
porque falam,
e escutei neles a uma menina,
e a uma mulher antiga.
O quarto foram teus pés,
retangulares e redondos,
razão e terra,
que te levam com o vento nas costas.
O quinto teus beizos,
que apanham teu sorriso
e dão na minha boca.
O sexto foi teu peito aberto,
que abriu o meu em flor
e me transformou em virgem.
O sétimo foi a tua voz,
que desde o fundo do poço,
foi um sino ecoando.
O oitavo essa determinação tua,
capaz de doer tanto,
de formar-te tanto,
de engrandecer-te e encogerte,
coração em sístole e diástole.
O nono tua raiz,
tua ancoragem à terra
que nem te âncora nem te retém,
mas que é em ti como tu mesma.
O décimo,
o décimo que quis de ti,
ainda não o sei,
mas sei que o quero tanto
como tudo o que quero de ti,
como tudo aquilo que sei que é verdade,
como tudo o que dás-me sem sabê-lo,
sabêndo
ou sem que o saibamos nenhum dos dois.
Não quero ser sem teu olhar,
esse que nos diz aos dois
que viver não é necessário,
que não precisamos de nada,
nem sequer de enumerar o que queremos,
nem de palavras,
nem de versos,
nem de poemas,
quando nos olhamos os dois em silêncio,
um ao outro,
o outro a um,
assim.
2 comentarios:
“Um dia, quando a ternura for a única regra da manhã, acordarei entre os teus braços, a tua pele será talvez demasiado bela e a luz compreenderá a impossível compreensão do amor. Um dia, quando a chuva secar na memória, quando o Inverno for tão distante, quando o frio responder devagar com a voz arrastada de um velho, estarei contigo e cantarão pássaros no parapeito da nossa janela, sim, cantarão pássaros, haverá flores, mas nada disso será culpa minha, porque eu acordarei nos teus braços e não direi nem uma palavra, nem o princípio de uma palavra, para não estragar a perfeição da felicidade.”
José Luis Peixoto in A criança em ruinas
voltei a ler o texto de J L Peixoto
e sim , achei-o ainda mais excessivo,
? direi
improvável
daí porém a sua beleza
daí que encaixe de muitas formas nos teus pontos
falando ele mais
intensamente do ponto 10.
do
ponto
dez
~
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